quinta-feira, 23 de abril de 2009
Mais futebol na biblioteca
Atacante bom é aquele que faz gol. Goleiro bom é aquele que evita gol. E técnico bom, quem é? O grande estrategista, que domina as teorias? O paizão, que trata os jogadores como crianças crescidas e carentes, necessitadas de compreensão e apoio? O tático, capaz de "virar o jogo" no intervalo, com alterações surpreendentes? O que sabe revelar jogadores? O que sabe lidar com estrelas? O que sabe "ler o jogo"? O que estuda os adversários? Ou, simplesmente, o vencedor?
Numa época em que técnico transformou-se em "professor" é evidente a importância dada a esse profissional do futebol pela mídia especializada e pelos torcedores. Particularmente, acredito que os treinadores são importantes, mas não tanto quanto alguns pensam ser e nem como hoje a estrutura do futebol determina.
O Brasil teve sempre grandes treinadores de futebol e, mais do que isso, grandes personagens. Figuras que marcaram época à beira do gramado, conquistando títulos, colecionando histórias, inaugurando modismos, descobrindo e aprimorando novos craques. O bombardeio de informações a que somos submetidos hoje cobra um preço muito alto: o prejuízo à memória?- que nunca foi o forte do nosso povo. Dia desses, numa das famosas conversas de cafezinho na redação, os mais experientes da roda foram citando nomes de treinadores do passado. Todos vencedores, consagrados. A cada gole e a cada nome a interrogação estampava o rosto dos mais jovens. Eu me perguntava: como eles podem não saber quem foram Lula, Bela Gutman, Ênio Andrade, Oswaldo Brandão? Para a minha geração, a dos que hoje perambulam pela casa dos 40, isso se aprendia quase que por osmose. No mundo do Google, do YouTube e dos terabytes a informação envelhece depressa e muita coisa se perde pelo caminho. Se a lembrança não é automática, nada melhor do que exercitar a memória dos mais antigos e abastecer a dos mais jovens. Eu tive a sorte, através de meu querido pai e mestre, Luiz Noriega, de ouvir muitas das histórias aqui relatadas e, também, de conviver com alguns dos personagens.
Foi em uma outra conversa, com Jaime e Luciana Pinsky, da Editora Contexto, que surgiu a ideia deste livro, que eles me deram a honra e a responsabilidade de escrever. Sempre preocupados com a educação e a memória, Jaime e Luciana detectaram a necessidade de resgatar algumas histórias e apresentá-las à nova geração de apaixonados pelo jogo de bola. Através destas páginas se percebe claramente como a figura do técnico foi ganhando importância no Brasil, simultaneamente ao êxodo dos grandes craques. Como já não existem grandes craques jogando no Brasil - afirmação feita pelos próprios treinadores -, a realidade é que, talvez com um certo exagero, os treinadores passaram a ser as estrelas. Sobre o tema, cito rapidamente o amigo Toninho Neves, jornalista dos bons, eternamente polêmico. Ele afirma que na era dos craques, quando se dizia que os técnicos cochilavam no banco, o Brasil ganhou três de quatro Copas entre 1958 e 1970. Depois, na era dos estrategistas, a partir da Copa de 1974, foram nove Copas disputadas e apenas duas conquistas. É para se pensar.
Como toda lista, esta também vai gerar polêmica. Alguns dirão que faltou fulano, que sicrano não deveria fazer parte dessa compilação. Mas também para chegar a esses 11 houve muita pesquisa, muita conversa e entrevista, em mais de 20 anos de carreira como jornalista e apaixonado por esportes (isso desde muito antes do jornalismo). Alguns dos critérios utilizados para definir a relação de técnicos foram número de conquistas, o impacto no futebol de sua época, as inovações criadas.
Apenas dois nomes me deixaram em dúvida: Aymoré Moreira e João Saldanha. Aos 45 minutos do segundo tempo, decidi que a biografia do jornalista João Saldanha, o João Sem Medo, se sobrepunha à do treinador que trabalhou no Botafogo e começou a montar a seleção brasileira que seria campeã do mundo em 1970. Quanto a Aymoré Moreira, muito bom goleiro e posteriormente treinador de reconhecida competência, campeão mundial em 1962, no Chile, talvez tenha sido um erro deixá-lo de fora, mas a escolha era muito difícil. Posso até estar equivocado e sei que, no país dos 180 milhões de técnicos de futebol, outras listas de 11, 20 nomes surgirão. Espero que esta faça justiça ao trabalho e à memória dos aqui perfilados.
Outra brilhante sugestão dos editores foi acrescentar aos perfis dos treinadores entrevistas de personalidades, ex-jogadores e outros treinadores, que com seu depoimento ajudam a entender a importância de Os 11 maiores técnicos do futebol brasileiro. Os perfis dos treinadores estão apresentados numa ordem que procura apresentar a evolução do futebol brasileiro e a contribuição histórica desses profissionais. O húngaro Bela Gutman teve influência decisiva no trabalho de Vicente Feola com a seleção brasileira em 1958, por exemplo.
Procurei apresentar de maneira fiel as personalidades históricas do futebol aqui retratadas, com um pouco de suas vidas, seu trabalho, suas realizações. Sem nenhuma pretensão literária, o objetivo deste livro é oferecer uma fonte honesta e segura de informação sobre alguns dos principais treinadores que passaram pelo melhor futebol do mundo.
Encontre essa pérola, do Maurício Noriega, comentarista do Sportv, por exemplo, na Siciliano
Lunático
6858km de futebol
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