segunda-feira, 13 de abril de 2009

Didico da Vila Cruzeiro


http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI67708-15215,00.html
Adriano - A queda do imperador
Por que o craque da Seleção fugiu da Itália para soltar pipa na favela
Nelito Fernandes

BALADAS
Adriano, segundo a polícia, é amigo de traficantes. Teria ficado com eles, na favela, nos três dias em que esteve desaparecido no Rio
Públio Élio Adriano foi imperador de Roma de 117 a 138 d.C. Conhecido simplesmente como Adriano, não era um nobre. Filho de colonos, foi adotado pelo imperador Trajano e o sucedeu. O brasileiro Adriano Leite Ribeiro, de 27 anos, foi entronizado “imperador” da Internazionale de Milão em 2004, quando marcou 66 gols em 141 jogos. Assim como seu homônimo, o Adriano jogador também não veio da nobreza. Nasceu na Vila Cruzeiro, favela carioca onde a mãe, dona Rosilda, vendia paçoca, ovos e botijões de gás. Ganhou a alcunha de Imperatore por causa de suas atuações implacáveis em campo contra os adversários. Na semana passada, o Imperador da Vila Cruzeiro deu sinais que prefere levar a vida não como um nobre, mas como um plebeu.

Adriano estava no Brasil para dois jogos das eliminatórias da Copa do Mundo. Devia ter se reapresentado à Internazionale de Milão na sexta- -feira 3. Não voltou. Durante três dias foi declarado “desaparecido”. Boatos logo se espalharam. Uns diziam que o jogador teria morrido. Notícias falsas alardeavam que ele teria sido sequestrado por traficantes da Vila Cruzeiro. O jogador, de fato, estava na favela. Mas por vontade própria.

Os boatos provocaram uma investigação da Delegacia Antissequestro do Rio de Janeiro, que confirmou a presença do jogador na favela. “Todos sabem que ele foi criado lá”, diz o delegado Marcos Reimão. “Ele é amigo dos traficantes Mica e Fabiano e esteve com eles durante os três dias em que ficou lá.” O policial, porém, diz não acreditar que Adriano tenha se drogado. “Não acho que tenha relação com drogas. Até porque ele é um atleta e está constantemente fazendo exames antidoping.”

Depois de toda a confusão e boataria, o procurador de Adriano, Gilmar Rinaldi, deu entrevistas dizendo que o Imperador estava bem, na casa da família, na Barra. Ele confirmou a ida de Adriano à favela, onde teria apenas visitado amigos. Gilmar negou o uso de drogas, mas disse que Adriano tem problemas pessoais e que precisa fazer uma “escolha séria”. O procurador recusou-se a entrar em detalhes e, na terça-feira, disse que o jogador poderia se internar numa clínica de reabilitação. No mesmo dia, Adriano finalmente apareceu, dirigindo o próprio carro na saída da casa da mãe.

Já faz algum tempo que Adriano tem aparecido mais por causa de seu desempenho fora dos gramados. O jogador já admitiu que tem problemas com álcool. Em entrevista ao jornal italiano Gazzetta dello Sport, Adriano disse que bebia porque se sentia sozinho. O alcoolismo teria se agravado com a morte do pai, em 2004, vítima de uma bala que ficou durante anos alojada na cabeça. Dois anos depois, Adriano sofreu outro revés. Separou-se da mulher, Daniela, ainda grávida de seu filho Adrianinho.

Toda vez que sofre uma grande perda, Adriano se “interna” na Vila Cruzeiro. Para a polícia, o rompimento do namoro com a personal trainer Joana Ribeiro explica a recente ida de Adriano para sua peculiar “clínica de reabilitação”. A relação já estava mal das pernas e acabou de vez quando Joana soube de uma festinha promovida por Adriano em sua casa no Rio.


DE VOLTA
Adriano é flagrado dentro do carro, saindo da casa da mãe. Os boatos de sequestro mobilizaram a polícia do Rio
Na lista de convidados, jogadores de futebol, garotas de programa e até um travesti, segundo ela. Joana diz que Adriano está perdido e que só se encontra na favela. “É lá que ele se sente bem. Gosta de soltar pipa, andar descalço e fazer churrasco com os amigos. Lá não tem essa de imperador.”

Joana diz que ele não usa drogas e que gosta de ficar na favela por causa dos amigos e do ambiente. Segundo ela, Adriano não sente mais prazer nos campos e estaria entediado e deprimido. Ela conta que já foi várias vezes à Vila Cruzeiro buscá-lo, a pedido da mãe de Adriano, que tem medo da violência. Ele sempre acabava voltando.

Como tantos garotos da favela, Adriano sonhava em ser jogador do Flamengo. Em 2000, Didico, como era chamado na Vila Cruzeiro, teve sua chance. Estreou contra o São Paulo e marcou um gol. Apesar da boa atuação, alternava o lugar no banco com o de titular. Chegou a ser convocado para a Seleção por Emerson Leão, mas não se firmou no Flamengo e ficou fora dos planos de Luiz Felipe Scolari para a Copa de 2002.

O clube carioca acabou se desfazendo de Adriano, que foi envolvido numa troca por Vampeta com a Inter de Milão. Na Europa, ele deslanchou. Seu passe chegou a valer 100 milhões de euros, e Adriano foi colocado no mesmo nível de Kaká, Ronaldo e Ronaldinho, com quem formou o malogrado “quadrado mágico” da Seleção de 2006.

O declínio também veio rápido. Adriano envolveu-se em confusões e noitadas, brigou com técnicos, bebeu demais, bateu com o carro e, na tentativa de recuperar a melhor forma, aceitou jogar emprestado no São Paulo, ganhando apenas 10% do que recebia na Europa. A temporada no Brasil serviu como terapia para a volta à Itália, que acabou acontecendo, mas sem o mesmo brilho de antes.

Num vídeo divulgado no YouTube, Adriano aparece dizendo: “Amo a minha favela, não troco ela por nada nem por ninguém nessa vida”, afirma ele, de bermudas e sem camisa, antes de completar: “Eu não mudei nada”. Em apenas cinco anos, Adriano trocou os campos de barro da Vila Cruzeiro por uma vida de milionário. De moleque pobre, virou um dos jogadores mais caros do mundo, com salário de 600 mil euros. Foi aclamado Imperador. Mas continua sendo Didico.

Lunático
6858km de futebol
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