Época #580 - Copa do Mundo 2010: os estádios que você não viu (ANDRÉ FONTENELLE, DE JOHANNESBURGO)
ÉPOCA visitou os dez campos do mundial do ano que vem. Se tudo ficar pronto a tempo, a Copa do Mundo de 2010 promete ser melhor que a Copa das Confederações
Walala wasala. A expressão zulu, que pode ser traduzida livremente como “bobeou, dançou”, aplica-se bem à seleção de futebol da África do Sul. Os Bafana Bafana (os garotos, também em zulu), como são conhecidos, anfitriões da Copa das Confederações, foram eliminados por um gol de falta de Daniel Alves a três minutos do fim, quando a semifinal contra a Seleção Brasileira parecia destinada a uma prorrogação. O percurso da seleção anfitriã, treinada pelo brasileiro Joel Santana, foi acidentado (uma vitória, um empate, duas derrotas), mas despertou, pelo menos por alguns dias, euforia num país ainda cheio de problemas legados pelo apartheid, o regime de segregação racial que vigorou até o início dos anos 1990. Mais importante que o resultado em campo, porém, foi a África do Sul ter sido capaz de organizar o torneio, preparatório para um desafio maior, daqui a 50 semanas: a Copa do Mundo.
O mundial de 2010 terá 32 times, 64 jogos e dez estádios, em vez dos oito times, 16 jogos e quatro estádios na Copa das Confederações. O desafio logístico, portanto, é outro. ÉPOCA visitou as nove cidades-sede e os dez campos (Johannesburgo terá dois estádios). Dessas visitas é possível afirmar que os estádios, pelo menos, não serão o problema. Cinco podem ser considerados prontos e os outros cinco deverão estar completados até dezembro, seis meses antes do início do torneio. Depois de muito reclamar de atrasos, a Fifa (a federação internacional de futebol) parece ter conseguido fazer o cronograma das obras andar no prazo.
Os problemas que a África do Sul tem um ano para resolver são outros: algumas cidades pequenas, como Nelspruit e Polokwane, não têm hotéis suficientes para a demanda do período da Copa. Em cidades grandes, como Johannesburgo e Durban, onde os índices de criminalidade são altíssimos, parece impossível garantir a segurança de milhares de torcedores, por mais que o governo prometa um esquema especial.
O torcedor brasileiro interessado em ir à África do Sul no ano que vem – mais de 5 mil já teriam comprado ingressos – terá de planejar a viagem com muito mais cuidado que três anos atrás, quando a Copa do Mundo foi disputada na Alemanha. É indispensável conhecer a localização exata dos hotéis – em Johannesburgo, ficar na zona norte ou na zona sul da cidade significa poder sair à rua em segurança ou ter de passar o dia trancado no hotel com medo de assaltos.
Voos entre uma cidade e outra devem ser reservados com antecedência: os sul- -africanos são torcedores fanáticos que não hesitam em pegar um avião para assistir a uma competição do outro lado do país. Na semana passada, faltaram assentos em várias linhas domésticas, devido à Copa das Confederações e à excursão de um combinado britânico-irlandês de rúgbi. Hospedar-se em Pretória, a 50 quilômetros de Johannesburgo e próxima de três outras sedes (Rustenburg, Polokwane e Nelspruit), é uma boa opção para quem pode alugar um carro e não se importa com a mão inglesa e o volante do lado direito do carro.
Embora reconheçam os problemas de segurança e estrutura, os sul-africanos estão evidentemente orgulhosos com a Copa que vem aí. “Não vejo a hora de este estádio ficar pronto”, diz Dave Miles, o responsável pela segurança da obra de Soccer City. “Nunca vi tanta coisa sendo feita ao mesmo tempo neste país: estádios, estradas, aeroportos.” Verdadeira joia da arquitetura contemporânea, projeto de um escritório sul-africano, o gigantesco estádio ainda está envolto pela poeira do canteiro. Quando ela baixar, o que se verá é um anel colorido composto de milhares de painéis de fibra de vidro. Dentro dele, quase 100 mil pessoas assistirão à decisão da Copa. Muitas delas, espera-se, virão de Soweto, o bairro vizinho famoso no mundo inteiro desde que, em 1976, ali começou o levante contra o apartheid.
Soccer City não é o único orgulho da engenharia sul-africana. Mesmo os estádios mais modestos da Copa, como os de Polokwane e Nelspruit, terão padrão de Primeiro Mundo – o mesmo que o Brasil terá de apresentar em seus 12 estádios, na Copa de 2014. Perdido à beira de uma estrada, no meio do nada, o estádio Mbombela, de Nelspruit, é talvez o mais inusitado. Seus pilares têm a forma de um corpo de girafa, uma referência ao Parque Kruger, a gigantesca reserva de animais selvagens que fica a apenas 40 quilômetros dali e é a maior atração turística do país. As cores dos assentos lembrarão a pele de animais-símbolo da África, como a zebra. Tudo para impressionar o planeta em 2010, qualquer que seja o desempenho da seleção da casa. Os sul-africanos não querem que o mundo diga, a seu respeito,walala wasala no ano que vem.
ELLIS PARK - JOHANNESBURGO - 70 MIL LUGARES
Quase pronto (ainda passará por pequenas reformas até o mundial), já foi usado na Copa das Confederações. É um tradicional estádio de rúgbi
ESTÁDIO FREE STATE - BLOEMFONTEIN - 45 MIL PESSOAS
Pronto, foi usado na Copa das Confederações. Exigiu apenas uma pequena ampliação.
Os problemas da cidade são outros: aeroporto minúsculo e poucos hotéis
SOCCER CITY - JOHANNESBURGO - 94.700 LUGARES
Palco da final, ficará pronto em janeiro. Mais de 30 mil painéis coloridos de fibra de vidro compõem a fachada do estádio, que é a ampliação de outro que já existia ali.
NELSON MANDELA BAY - PORT ELIZABETH - 49 MIL LUGARES
Recém-inaugurado, é um dos estádios mais bonitos da Copa, com seu teto de alumínio e material sintético. Vai sediar a decisão do terceiro lugar.
PETER MOKABA - POLOKWANE - 45 MIL LUGARES
Está 65% pronto (previsão: dezembro). A cidade, conhecida como Pietersburg no tempo do apartheid, é pequena (300 mil habitantes) e destino de caçadores e ecoturistas.
MOSES MABHIDA - DURBAN - 70 MIL LUGARES
Ficará pronto até dezembro. É o estádio de arquitetura mais impressionante. O arco que sustenta a estrutura terá um bondinho panorâmico.
LOFTUS VERSFELD - PRETÓRIA - 49 MIL LUGARES
Pronto. O lugar é usado para esporte há 106 anos, o que fará dele no ano que vem o mais antigo estádio já usado em uma Copa do Mundo. Nele, o Brasil derrotou os EUA e a Itália.
GREEN POINT - CIDADE DO CABO - 68 MIL LUGARES
Previsto para outubro, foi o estádio de construção mais problemática, por controvérsias ambientais e de custos. Vai sediar uma semifinal.
MBOMBELA - NELSPRUIT - 46 MIL LUGARES
Está 80% pronto. Sua característica mais marcante são as colunas em forma de girafa, referência à proximidade do Parque Kruger, maior reserva natural e atração turística do país.
ROYAL BAFOKENG - RUSTENBURG - 40 MIL LUGARES
Está pronto. Precisou apenas de pequenas reformas para ser usado já na Copa das Confederações.
Lunático
6858km de futebol
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