segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Histórias de um gringo de Campina

Coisas do futebol da minha terra que nao conhecia......
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Histórias de um gringo de Campina
Por: ASTIER BASÍLIO







GRINGO DE CAMPINA -
O avião seguia para o Rio de Janeiro. Nele, um gringo, empresário de futebol. Ao lado, em outra cadeira, o presidente do Vitória. O gringo pisca o olho para um crioulo sentado atrás e aponta para o cartola: “Esse daí é o zagueiro que eu estou levando pro Flamengo”. Dada a informação, o dirigente baiano acendeu os olhos. “Quero esse zagueiro”. Quando a negociação já envolvia milhões, o afortunado “zagueiro” foi ao banheiro e acabou revelando a brincadeira: ele era deficiente físico.O gringo da história chama-se Janos Tatray. Verdadeira ou não, a lenda é sintoma do quanto o poder de sua palavra valia no mundo do futebol nordestino. Quem é de Campina Grande e circula pelo centro da cidade, mais precisamente no Calçadão, já deve ter se deparado com ele, um velhinho sorridente, sempre de terno, apoiado em uma bengala.Janos Tatray nasceu em 1922. A primeira Copa do Mundo iria ser realizada só oito anos depois, no Uruguai. Húngaro, que veio ao Brasil fugido da 2ª Guerra, Tatray atuou como diretor, técnico e empresário, sendo esta última atividade a que ele mais se destacou, embora rejeite a alcunha de “empresário”. “Não, não sou isso. Nunca ganhei dinheiro com futebol, não fiquei rico”, conta. Se alguém insiste em saber se ele não fez fortuna no esporte, Tatray responde, sem esconder um pouco a amargura. “Olha pra mim. Se eu tivesse ganhado dinheiro estava desse jeito, morando onde eu moro?”.Às voltas com a esposa doente, que depende dele, Janos não esconde a mágoa de alguns dirigentes, embora prefira manter silêncio. Ultimamente não vai mais aos estádios. Não vê mais jogos. Um local que diariamente frequenta é a redação do JORNAL DA PARAÍBA em Campina Grande, na rua Major Juvino do Ó, no Centro. Chega próximo ao meio-dia, toma um cafezinho, cumprimenta os funcionários e lê o jornal, sempre sorridente e o mesmo sotaque de húngaro que nem as décadas morando na Paraíba conseguiram retirar.

Tatray: “Nasci de novo. Aqui é minha Vszprèm”


No Treze, pra evitar problemas, Tatray conta que de cara mandou embora os bêbados. Dentre os jogadores que destaca, de seu tempo, estão: o goleador Santos; Ruivo, o meia esquerda; e o goleiro Harry Carey, “era um monstro”; o eterno capitão, Nelson. Em suas preleções, Tatray conta que procurava ser direto. “Não quero jogador santo. Quero que tenha raça, que queira vencer”. Os olhos absortos no passado, o comandante aposentado suspira e confessa: “Eu fiz misérias”.Perguntado sobre o seu grande momento no futebol, Janosescolheu uma partida em que estava fora de campo, atuando como técnico. O seu ápice no futebol foi o terceiro lugar num campeonato entre seleções estaduais, ao qual esteve à frente do time do Ceará. “Fui condecorado pelo governador”, lembra.A partida que ficou gravada na memória de Janos foi um jogo contra o Alagoas. Janos tinha um método todo especial para tratar os seus jogadores. Dois a zero de vantagem para o Alagoas. Final do primeiro tempo, no intervalo, Janos reuniu todo mundo e disse, num português que ainda hoje guarda o sotaque húngaro e garante o seu apelido de “gringo”: ou vocês colaboram e vamos virar o jogo ou então acabou nosso reinado. “Eles começaram o segundo tempo de maneira espetacular. Eles tinham me dito: chefe, não se preocupa. A gente vira o jogo”. E viraram. A partida foi ganha, os jogadores a cada gol corriam ao treinador. Enquanto relembrava, Janos emocionou-se. Por instantes, voltou a ser um velho “chefe”.Esta partida, contra a seleção de Alagoas, aconteceu em 1962. Naquele ano, o Estado vencedor do Campeonato Brasileiro de Seleções foi Minas e Janos lembra que o Ceará ficou em terceiro lugar à frente de São Paulo, que era treinada por Feola, ex-treinador da seleção brasileira campeã de 1958. Nos anos 1960, Tatray foi para Recife, onde treinou o Santa Cruz, passou também pelo Paysandu à frente de quem sagrou-se campeão da Copa Norte. Em seguida, foi pra Venezuela dirigir o Deportivo Português. De volta, em 1966, Tatray fez parte da comissão técnica do Treze, que naquele ano sagrou-se campeão invicto. Tatray foi treinador do Bahia, no final dos anos 1960 e ainda nesse período treinou o Ferroviário do Ceará. Nos anos 1970, Tatray dirigiu a seleção do Haiti. No site Treze, há a seguinte mensagem de Tatray: “Nasci em Vszprèm... Nasci de novo no Brasil... Essa Campina Grande é minha Vszprèm”.Incorporado à paisagem sentimental de Campina Grande, Janos que ainda guarda em seu arquivo recortes de jornal e fotografias com grandes nomes do futebol como João Havelange, Pelé e Nabi Abi Chedid, é patrimônio vivo de nosso esporte.



Nas terras paraguaias, Tatray começou a trabalhar com turismo. Razão por que veio ao Rio de Janeiro, em um congresso. Chegou ao Brasil, uma decisão bateu forte no peito do gringo. “Não vou voltar não”. Todavia, o convívio no Rio de Janeiro não deu muito certo. “Os meus amigos bebiam muito”. Tatray se tornou comerciante. Vendia bijuterias.O Gringo ficou com as marcas da guerra no seu corpo. Passou 40 anos com estilhaços de granadas que só vieram ser retirados em 1985. Para Mário Vinícius, um dos fatores preponderantes para que Tatray se firmasse no futebol foi, além do seu conhecimento ténico, a fama do futebol da Hungria, nos anos 1950. “Ele também se revelou um grande empresário abrindo porta pra muita gente, chegou a treinar a seleção do Haiti. Além de ser um verdadeiro arquivo da história do futebol, embora quando se pergunte a ele sobre bastidores do futebol, o Gringo saia pela tangente. No dia em que Tatray resolvesse abrir a boca, muita coisa do nosso futebol seria revelada.Numa de suas andanças, aportou em Recife, num hotel perto do Jornal do Commercio. Foi descoberto pelo jornalista, já falecido, Hélio Pinto. Deu uma entrevista que surtiu efeito. Tatray foi chamado para treinar o time do Tacaruna. Mas, não demorou muito tempo por lá não. “Recebi um telegrama do presidente do Auto Esporte, o coronel Calixto”. Tinha lido a matéria e se interessado em ter o húngaro dirigindo a equipe automobilística no campeonato paraibano.Já defendendo as cores do Macaco Autino, Tatray conseguiu a façanha de bater os líderes do campeonato emplacando uma sequência de 5 vitórias. “O Carlos Pereira até fez uma manchete no jornal: A coqueluche do futebol paraibano”, lembra. Alguma receita para o sucesso? Tatray conta que tinha uma maneira diferente de tratar os jogadores. “Estudava os mais inteligentes e decidi que dentro de campo era eles quem mandavam.Tudo ia muito bem. Ia tão bem que aquele gringo despertou a atenção de outro time. “Aí o Treze comprou meu contrato”. Isso foi em 1957. Após temporada no Galo, o Gringo vai para o Campinense onde fica até o fim de 1958. Em seguida, o destino de Tatray é o exterior, vai para Portugal e lá dirige o Vitória Setúbal do Porto. Um ano depois, Tatray volta ao Brasil e comanda o Ceará com o qual sagra-se tricampeão estadual de 1960-62.
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Na Hungria, técnico era o pai de Puskas


“Eu batia muito, era um lateral direito forte”, recordou Janos. Para quem já é octogenário, uma das principais é justamente ater-se a datas, episódios mais específicos. Essa foi a principal dificuldade da entrevista. Quando perguntado sobre nomes e datas, o velho guerreiro titubeia e o peso dos anos já o dribla. Mas, quando era conduzido ao seu tempo de ouro, o velho comandante segue fluente, como se corresse carregando a bola pelo flanco direito. Suas primeiras atuações foram em uma equipe de futebol de sua cidade natal, Vszprèm. Ele conta que conviveu com a grande glória do futebol húngaro, o jogador Púskas. Tatray diz que foi fazer um treino em Kispest, no subúrbio de Budapeste, onde o pai de Púskas era treinador. Mas, aí acontece a II Guerra. Tatray é convocado para militar contra os russos, do lado de Hitler. O professor Mário Vinícius, autor do livro “Treze Futebol Clube 80 Anos de História” conta que certa vez, conversando com Tatray sobre o período em que ele esteve no exército, o Gringo lhe disse que seu batalhão desfilou perante Hitler. Mário informa que como o idioma húngaro é dificílimo, segundo alguns, “a língua que o diabo inventou”, é pouco dominado pelos demais povos da Europa. “Então - contou Tatray - nós desfilamos perante Hitler com a tropa toda xingando-o em coro! O nome mais bonito era ‘filho da p...’ E o mais engraçado era que o povo aplaudia, pensando que estávamos cantando em homenagem a ele”.Tatray acabou prisioneiro. Na Polônia, conseguiu passar para o lado americano, muito machucado e ferido, isso depois de – mesmo sem ter ido ao Brasil – usar o “jeitinho brasileiro” e molhar a mão dos guardas. Após uma passagem em Paris, Tatray segue então pra Argentina. Ele conta que era por volta de 1947, 1948. “Queriam que eu treinasse um time lá, mas eu não queria. Sabiam que eu era jogador”. É no Paraguai, que o gringo começa a organizar um time. “Um húngaro lá pra eles era tudo. Dirigi um time, mas não oficialmente”. Infelizmente, Tatray não recorda de maiores detalhes sobre essa iniciativa por lá.
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POR ONDE PASSOU JANOS TATRAY


Assim que se radicou no Brasil, Janos Tatray descobriu o futebol. E fez uma carreira de sucesso em vários Estados desempenhando as funções de técnico, coordenador, supervisor ou gerente - nomenclaturas que, diga-se de passagem, não existiam em sua época; até nisso Janos foi pioneiro. Na Paraíba, passou por Treze, Campinense e Auto Esporte, mantendo uma ligação maior com o Galo. No Ceará, foi tricampeão estadual. Fora do país, trabalhou ainda em Portugal, na Venezuela e até na Seleção do Haiti. Por tudo isso, Janos Tatray faz parte da história (e do folclore) do nosso futebol.



PARAÍBATrezeCampinenseAuto Esporte

CEARÁCearáFortaleza;Ferroviário;

PERNAMBUCOSanta Cruz; Sport;

BAHIABahia

PIAUÍTiradentes

PARÁPaysandu

PORTUGALVitória de Setúbal

VENEZUELADesportivo Português, de Caracas,

HAITISeleção Nacional do Haiti.

6858km de futebol
http://6858kmdefutebol.blogspot.com/

2 comentários:

Anônimo disse...

Laerte, eu fiz a faculdade de Direito com o neto dele, Karoly de Tatrai Hiluey Agra, e fui aluno em Direito Financeiro do cara que escreveu o livro dos 80 anos do Treze Futebol Clube, ja deu pra notar que se falava muito em futebol na classe neh...

Unknown disse...

Tb estudei com Karoly, muito gente boa, e me falava muito do tio...
O q mancha a imagem dele eh ter treinado a preazada...rssss
naum acha?